segunda-feira 22 de dezembro

Nova Estratégia de Segurança e Seus Reflexos Globais

Recentemente, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, expressou preocupações alarmantes sobre a necessidade de que os Estados Unidos desenvolvam cadeias de suprimentos diversificadas e confiáveis para minerais críticos. Em seu discurso, Rubio enfatizou: “Precisamos garantir que não dependamos excessivamente de um único lugar que possa usar isso como uma alavanca contra nós ou nossos parceiros”. Seu discurso sugere um fim à longa trégua estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, indicando que a competição entre potências está em ascensão novamente.

A Nova Estratégia de Segurança dos Estados Unidos, a segunda sob a administração do trumpismo, já se apresenta como um marco em um cenário global cada vez mais desafiador. A primeira estratégia, publicada em 2017, havia traçado as diretrizes básicas para a política externa americana, destacando a importância de priorizar os interesses nacionais em meio ao ressurgimento da Rússia e à crescente influência econômica da China.

Agora, a nova abordagem vai além, revelando um foco inédito em conter a projeção de poder da China, mostrando uma América acuada diante dos avanços tecnológicos do país asiático. A mensagem é clara: os EUA precisam redirecionar suas atenções para seu próprio território, reorganizando suas forças para, futuramente, retomar uma postura ofensiva contra o que consideram seu adversário mais significativo.

Relações Internacionais em Transformação

À primeira vista, a nova estratégia parece sugerir uma configuração multipolar, destacando zonas de influência globais. Curiosamente, Taiwan não é mencionada no documento, o que pode indicar que, apesar de ser um adversário sistêmico, a China não é vista como uma ameaça existencial imediata para os EUA. Essa abordagem reflete um recuo tático na postura americana.

Adicionalmente, a reaproximação entre Rússia e Índia, evidenciada por um aumento na parceria comercial e no envio irrestrito de combustíveis russos, parece alinhar-se com a nova estratégia de segurança. A Rússia, que antes servia como um pilar justificativo para a indústria militar americana, agora pode atuar como um instrumento de contenção contra o expansionismo chinês.

Por outro lado, a Turquia é vista como um “agente estabilizador” no Oriente Médio, o que indica que os Estados Unidos pretendem concentrar suas operações militares na América Latina, delegando a outras potências aliadas, como o Japão, o papel de contenção contra a influência chinesa na Ásia.

Impactos na Europa e na América Latina

No que diz respeito à Europa, os EUA parecem adotar uma postura indiferente, apoiando movimentos de extrema-direita enquanto se distanciam das questões que envolvem o continente. O incentivo à balcanização da Europa, com a implosão do projeto europeu, sugere que os europeus poderão ser forçados a aumentar seus gastos em defesa, preferencialmente adquirindo armamentos americanos.

Esse cenário de instabilidade pode ser favorável ao crescimento econômico dos EUA, que buscam reforçar seu poder no Hemisfério Ocidental. A Nova Estratégia de Segurança revela uma intenção clara de transformar a América Latina em um mercado de produtos industriais e tecnológicos americanos, além de restringir o acesso a recursos naturais vitais para a reindustrialização.

Brasil: Oportunidades e Desafios

Do ponto de vista brasileiro, a nova estratégia dos EUA pode ser menos prejudicial do que parece, especialmente se comparada ao que se desenha para a Europa. A militarização da América Latina não deve necessariamente significar a perda da influência americana sobre a região, ao contrário do que ocorre na Europa, onde os EUA parecem estimular divisões internas.

Historicamente, o Brasil se beneficiou dessa relação com os Estados Unidos, posicionando-se como um aliado estratégico em um contexto de “hegemonia benevolente”. Entre 1930 e 1980, o Brasil cresceu em média 6% ao ano, impulsionado pela estabilidade proporcionada pela aliança com os EUA. Contudo, o atual governo brasileiro enfrenta o desafio de negociar soluções que evitem conflitos, especialmente em relação à Venezuela, onde a estabilidade regional é considerada uma questão de segurança nacional.

Um Futuro Bipolar?

Em um contexto global instável, a autora Jennifer Lind, em artigo para a Foreign Affairs, argumenta que a China já pode ser mais poderosa do que a União Soviética foi durante a Guerra Fria, sugerindo que a rivalidade crescente entre os EUA e a China pode estar nos conduzindo a um mundo bipolar. À medida que essa rivalidade se intensifica, o Brasil deve adotar uma postura cautelosa, evitando que os ventos de guerra afetem sua região e interesses estratégicos.

Exit mobile version