segunda-feira 22 de dezembro

Taxa de Turismo em Angra dos Reis: Impacto e Controvérsias

Famosa por suas águas verde-esmeralda, areias claras e exuberantes montanhas, a Ilha Grande, um dos destinos mais icônicos do estado do Rio de Janeiro, enfrentará mudanças significativas em sua política de turismo. A partir de janeiro, turistas que visitarem Angra dos Reis, incluindo suas 365 ilhas, serão obrigados a pagar uma taxa. A determinação, aprovada por meio de uma lei municipal, visa arrecadar recursos para investimentos em infraestrutura e saneamento. Entretanto, essa nova cobrança já gera apreensão entre os profissionais do setor, que temem uma diminuição no número de visitantes.

Com a entrada da medida, a preocupação entre os comerciantes da Ilha Grande e de Angra dos Reis cresce. Os moradores estão inquietos com a possibilidade de a taxa afastar turistas, que poderiam optar por outros destinos mais acessíveis, como Paraty ou cidades no litoral paulista. De acordo com a prefeitura, os fundos arrecadados serão direcionados a melhorias em pontos turísticos, como a Praia do Abraão, que é a principal porta de entrada para a ilha.

Detalhes da Nova Cobrança e Reações

A TurisAngra, responsável pela administração de turismo na região, anunciou que a cobrança começará já no dia 1º de janeiro. Inicialmente, a taxa será aplicada a turistas que utilizarem serviços de embarcações para a travessia, além dos que chegarem em transatlânticos. A previsão é de que a Taxa de Turismo Sustentável siga um aumento gradual, começando em dez Ufirs, equivalentes a cerca de R$ 47,50, e subindo para 15 Ufirs, ou R$ 71,26, até 2027. Para os que optarem por visitar apenas o continente, a taxa será reduzida pela metade.

Nos próximos anos, a taxa poderá alcançar valores significativos, como 20 Ufirs (aproximadamente R$ 95) para quem deseja explorar as ilhas por dia, além de uma Ufir diária (cerca de R$ 4,75) após o oitavo dia. O diretor da Associação de Moradores da Praia do Abraão, Rodrigo Retonde, expressou sua preocupação, dizendo que uma família com dois filhos enfrentará uma despesa de até R$ 190 só com a taxa, além dos custos já elevados de hospedagem e alimentação na região, o que pode levar a uma queda no consumo local.

A Defesa da Taxa e Críticas à Gestão

João Willy, presidente da TurisAngra, defende a medida, argumentando que várias cidades turísticas pelo Brasil e pelo mundo adotam taxas semelhantes. Segundo ele, a arrecadação resultante da taxa ajudará a melhorar serviços públicos, especialmente considerando que o custo de coleta de lixo na ilha gira em torno de R$ 5 milhões anuais, enquanto a arrecadação de ISS varia entre R$ 6 a R$ 7 milhões.

Por outro lado, ambientalistas e moradores locais questionam a eficácia da taxa. O ambientalista Alexandre Guilherme propôs que a cobrança fosse simbólica e voluntária, uma vez que a lei não garante que os recursos arrecadados sejam especificamente utilizados para a preservação da ilha. Para ele, o risco permanece de que os valores sejam direcionados para outras áreas da gestão municipal.

Implicações para os Turistas e o Comércio Local

A insatisfação também se reflete em vozes de turistas que planejavam suas férias na Ilha Grande. Aurélio da Silva, um jovem de 22 anos, revelou que, ao saber da nova taxa, começou a considerar alternativas mais acessíveis. Ele destacou os custos já altos associados à visitação, como passagens de barco e refeições, apontando que a taxa pode inviabilizar a visita para muitos. Atualmente, a Ilha Grande já possui taxas de turismo desde 2023, com valores mais baixos, mas que não se aplicam a todos os visitantes.

A situação se torna ainda mais complicada com a possibilidade de fiscalizações rigorosas. A lei prevê que quem não quitar a taxa pode enfrentar multas de até 100% do valor devido. No entanto, críticos como Pedro Badaró, que faz aluguel de quartos pelo Airbnb, apontam que a fiscalização pode ser problemática, já que muitos visitantes chegam por vias alternativas, como barcos e pequenas embarcações.

Discussões e Comparações com Outros Destinos

Esse cenário de conflitos e incertezas também ganhou espaço nas discussões da Alerj, onde o deputado Professor Josemar (PSOL) apresentou uma ação popular para suspender a taxa, defendendo os interesses dos trabalhadores do setor e dos turistas. Além disso, outras cidades, como Arraial do Cabo e Cabo Frio, já implementaram taxas similares, mas com valores e condições diferentes. Em Arraial do Cabo, por exemplo, os custos variam de R$ 219,56 a R$ 4.391,12, dependendo da época do ano.

À medida que a discussão sobre a taxa avança, a Ilha Grande, com sua beleza natural e rica biodiversidade, continua a ser um destino imperdível no Brasil, mas agora sob a sombra de uma nova realidade econômica que poderá impactar sua essência turística.

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